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Abstract(s)
Não sou cético, nem místico, nem cientificista ou cultuador da metafísica. Não
ergo bandeira alguma. Nenhuma causa me apetece. Sou minha própria tribo. “Todas as
minhas esperanças estão em mim” (TERÊNCIO in MONTAIGNE, 1998, p. 39); “nada
possuo senão a mim mesmo, e essa é uma posse em parte imperfeita e emprestada”
(MONTAIGNE, 1998, p. 39-40). Sou um mitolomicida, um assassino de ídolos. Sintome fascinado pela subversão, obcecado pela heresia, apaixonado pelo novo, nauseado
pelo velho e caquético. Minha alma permanece eufórica enquanto depara-se com o
desconhecido. Não tenho apego por elemento de gênero algum. Encerro todas as
convicções na minha inteira falta delas. As coisas só me são definitivas por enquanto!
Traço minha própria sorte. Faço meu próprio destino. Sou casmurro. Sou niilista. O
niilismo navalhante dos sem-pátria, sem-deuses, sem nada. O niilismo de quem
paradoxalmente entende o tudo a partir do nada; de quem sabe exatamente do que foge,
mas não o que procura (MONTAIGNE, 1998, p. 45). Sinto-me o próprio Quincas
confidenciando o humanitismo a Cubas (ASSIS, 1999). Encarno toda a dor de Arthur
1
.
Visto a necrofilia de Augusto
2
Quem sabe esteja entre os homens raros, nascidos .
póstumos, que atendem ao chamado de Friedrich
3
Não percorro a estrada do .
pensamento com leveza, como faria a meiga bailarina inspirando encanto e suavidade
ao interpretar alguma obra clássica. O meu caminho é árduo. Não atravesso a linha da
vida com candura e nem vivo molemente. Sou premido por sentimentos funestos. “A
podridão me serve de evangelho” (ANJOS, 1997, p. 42). Sobrevivi às sete solidões, e
isso é para poucos. Poucos são os que conhecem a grande dor; a dor que não se entende,
vive-se. Ciente de minha incoerência, passo agora a ponderar sobre o imponderável.
Quero falar tudo sobre o nada, pois “ama-se a vida, mas o nada não deixa de ter o seu lado bom” (VOLTAIRE in SCHOPENHAUER, 2000, p. 63). Desacato todas as
autoridades nesse instante. Todos os demônios me pertencem nessa hora.
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Sociedade Niilismo