RE - Número 25 - Janeiro de 2002
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Recent Submissions
- Uma Perspectiva para a Gestão Integrada de Áreas ProtegidasPublication . Cunha, Luísa Oliveira eA gestão de áreas protegidas pode ser definida como o processo dinâmico mediante o qual é desenvolvida e implementada uma estratégia coordenada para atribuição de recursos ambientais, sócio-culturais e institucionais visando alcançar a conservação e utilização múltipla sustentáveis destas áreas. Como objectivo, pode definir-se o proporcionar directrizes aos decisores sobre a forma como as exigências das numerosas actividades podem ser satisfeitas sem afectar demasiado o equilíbrio dos sistemas naturais ou o direito de todos os membros da comunidade as utilizarem e apreciarem. Neste sentido, pode definir-se gestão como qualquer programa, governamental ou não, estabelecido com o princípio de usar ou conservar um recurso ou ambiente, no pressuposto de que a gestão desses recursos exige conhecimentos integrados em instrumentos de gestão eficazes e de instituições dotadas de recursos capazes de se organizarem para a concretização de uma gestão que satisfaça os referidos objectivos. A gestão de áreas protegidas é habitualmente abordada segundo três vertentes: "em cima dos acontecimentos", isto é, fundamentalmente numa resposta imediata aos problemas graves de degradação ambiental destas áreas; aumentando apreciavelmente as potencialidades da área; ou segundo o entendimento de que as áreas protegidas constituem sistemas dinâmicos entre processos físicos, químicos, biológicos e sócio-económicos.
- Joseph Beuys : um filósofo na arte e na cidadePublication . Rodrigues, JacintoMuita gente, em Portugal, desconhece a vida de Joseph Beuys. E aqueles que conhecem a sua obra, conhecem-na desligada de todo o contexto em que foram criadas. As obras expostas nas galerias e nos museus não passam de cadáveres das "Acções" cujo sentido tem sido ocultado e apagado pelos críticos formalistas que tomam a nuvem por Juno. As suas obras pictóricas ou as suas esculturas, as suas instalações eram apenas pretextos para a criação de foruns para debates. A sua "arte feia" é uma espécie de contra-imagem, geradora de evocações simbolizadas pelos objectos expostos. O artista é o sujeito capaz de evocar o significado, apenas grosseiramente enunciado por aquele simples expediente com que toda a gente pode provocar a arte nos outros, ou seja, viver criativamente a vida "desocultando" o que está apenas escondido. Com materiais e instalações simples, pretende provocar interpretações simbólicas e culturais singulares, reacções de todos os que são capazes de construir a visão artística do que apenas foi enunciado.
- Os Judeus no espaço alemão e a procura de uma pátriaPublication . Sousa, Maria Gil deA história dos Judeus é constituída por uma série de migrações. Inicia-se na Palestina, ou como os Judeus hoje designam, Eretz Israel. Sob o domínio romano foram expulsos da Palestina no ano de 135 d.C.1 e estabeleceram-se como comerciantes no antigo Império Romano. Devido ao anti-semitismo, fenómeno de longa data, cujas manifestações e motivos têm variado, consoante a época e o local, os Judeus mantiveram-se unidos durante séculos por uma crença e uma tradição comuns.Nos primeiros séculos depois de Cristo, os Judeus chegaram à Europa Central, que viria a constituir o espaço geo-político que é a Alemanha de hoje, via Galileia3. Estava-se ainda sob o domínio romano. Nas margens do Reno e do Danúbio, em Mainz, Speyer, Worms, Trier, Augsburg e Regensburg existiam colónias judaicas, onde viviam comerciantes e artesãos. Os Judeus já constituíam um povo, antes que os alemães tivessem começado a sê-lo4. Com efeito, o espaço físico alemão era alvo de constantes invasões e perseguições. As primeiras referências que temos relativamente aos povos que habitaram o solo alemão datam de 44 a.C. e falam de um povo guerreiro a quem Júlio César e o seu historiador Tácito deram o nome de Germanos. Estes eram uma fusão de Godos, Vândalos e Bardos. O solo alemão é depois invadido pelos Romanos, Hunos, Saxões, Bávaros e Alemânicos. Só a partir do século IX é que se começa a formar o Império Alemão. Cerca do ano 900, os Judeus estavam envolvidos no comércio com a Boémia. Ao contrário dos Cristãos, que eram maioritariamente agricultores, os Judeus viviam do comércio. Os soberanos queriam usar o comércio para engrandecer o seu poder e prometiam aos Judeus protecção, em troca de altos impostos. Este "privilégio" fez dos Judeus um povo dependente da vontade dos soberanos.
- A Educação de Luíza e Celestina para Influenciar os HomensPublication . Lima, Jane Cristina Franco de; Oliveira, TerezinhaRESUMO: Este estudo tem por objetivo compreender e identificar como se desenvolve o processo educacional da mulher francesa no período de 1815 a 1848, bem como os agentes envolvidos, os valores assimilados e a amplitude da influência feminina na sociedade francesa no século XIX, através dos romances Memórias de Duas Jovens Esposas e Os Funcionários, de Honoré de Balzac. A educação das protagonistas Luíza de Chaulieu e Celestina Rabourdin revela que a mulher aprende, no convívio familiar e social, a realçar a beleza com uma toalete impecável, a utilizar o vestuário da última moda, a recepcionar convidados em seu salão, a freqüentar outros salões e a articular encontros com pessoas influentes e importantes com o intuito de alcançar os objetivos que almeja.ABSTRACT: The goal of this article is to comprehend and identify the educational developmental process of the French woman in the time frame between 1815 through 1848. Other objectives of this study include the feminine amplitude and influence in XIX century French society through two romantic works, The Memoirs of Two Young Wives and The Employees of Honoré de Balzac. The education of the protagonists, Luíza de Chaulieu and Celestina Rabourdin, reveals that through the family and social order the women learn to: accentuate beauty with an impeccable style of dress, utilize the latest fashions, entertain guests, visit others within appropriate protocol, and meet important and influencial people with the intention of reaching personal objectives.
- A Morte e seu duplo: essa segunda vida uma leitura de três narrativas destinadas à infânciaPublication . Marques, Maria Helena FerreiraMorrer será já não ser? O não-ser? E como nos resignarmos a um não-ser, quando, mesmo num corpo lívido e inerte de um ser amado, presenciamos em cada instante o seu sorriso, as suas afeições, os seus projectos omnipresentes e, todavia, sem matéria? Viver encarna a consciência, a afeição. A consciência pessoaliza, constrói um sentido, dota a existência de significação, segundo uma escolha singular. Então, como aceitar tão fria abstracção, desvitalizada de sentido e despersonalizante? Como aceitar não ser, sendo-se? A não ser que a morte, também ela, signifique... E significar, perpetua a vida ainda, e uma vez mais. Investi-la de significado é dotá-la de vida. O que remete para a transfiguração, mutação ou qualquer outro fenómeno vital. Após a niilificação tenebrosa, eis que o eterno dá à luz no seio da vontade humana. Até para um suicidário, segundo António Bracinha Vieira2, ao tornar-se num não-poder-querer de um sujeito-sem-expectativas, a morte não se impõe sem sentido, pois, enquanto ameaça o presente, este estado de emoções perpetua uma vez mais as significações eternas pelas quais o sujeito supõe exprimir-se integralmente em alternativa ao seu estado anterior. Compreendemos que o pensamento do homem viaja através dos tempos e dos espaços e não se sujeita estritamente às restrições do contexto vivido. Imaterial e vivificante, vocaciona-se incessantemente à conquista de outros lugares e de outras vidas. Cada homem renega a sua própria morte, pois aceitá-la seria renegar a sua individualidade, as suas vozes interiores, diga-se de passagem, invisíveis e transbordantes de grandeza, contra e não obstante todas as adversidades e limitações físicas. Levantam-se então as questões filosóficas em torno do enigma levantado no desaparecimento do corpo físico.
- A Companhia de Jesus Face ao Espírito Moderno (1ª Parte)Publication . Monteiro, Miguel CorrêaSegundo a opinião de muitos autores, deve realçar-se o contributo importantíssimo dado pelos primeiros Jesuítas através da Ratio Studiorum1, pois criaram, um sistema educativo e uma regra comum a todos os colégios, dando, deste modo, unidade aos processos educativos, que foram depois seguidos em centenas de colégios da Companhia de Jesus espalhados pela Europa e Américas. Se não foi possível à Companhia realizar sempre o que desejou, pelo menos fez o que esteve ao seu alcance. Enfrentando inúmeras dificuldades, como refere François Charmot, a Companhia «executou apenas uma parte dos seus desígnios», adaptando-se sempre às circunstâncias e em nome da maior glória de Deus.2 É um facto que os estilos, as exigências e as tradições vão variando conforme as épocas. Os Inacianos compreenderam que era necessário uma adaptação a esses desafios, e que «teria sido falta de senso comum não querer ter em consideração os métodos que, nos séculos XVII e XVIII, reclamavam a sociedade e as famílias. A disconformidade com elas seria uma utopia e talvez uma loucura. Não faltou aos Jesuítas o sentido da oportunidade».3 Das obras de carácter pedagógico escritas desde meados do século XVII, salientaremos a Ratio discendi et docendi, do padre Juvencio, que recorda a tradição primitiva na linha da Congregação Geral XIV, e a Instructio pro Magistris, de data incerta. As normas escritas pelos PP. Generales são também de consulta importante porque lhes competia zelar pela integridade do primitivo pensamento inaciano. Estando escritas em latim e sendo difíceis de consultar, não deixam, no entanto, de ser interessantes, pois reflectem as orientações da Companhia. O conhecimento dos princípios da pedagogia inaciana passa pela compreensão cuidadosa do discurso e do espírito da Ratio Studiorum. No entanto, já no tempo do padre Inácio Monteiro, o seu discurso parecia desadaptado face aos desafios de uma época tão polémica como foi o século XVIII. Isto não significa que o ideal humanizante da Ratio não fosse adequado. Alguns aspectos foram sendo renovados e adaptados por diversas Congregações Gerais, e também por intermédio dos Superiores Gerais. A Ratio de 1599 incluía as ciências nos seus programas, mas o realce era dado ao ensino das letras, como não podia deixar de ser face ao atraso daquelas.
- A Trindade e Maria n'Os Lusíadas e na Lírica de Luís de CamõesPublication . Morujão, Geraldoamões não é apenas o épico de renome mundial e o grande "poeta do amor". Ele é também o "poeta da fé". Este génio ímpar não é somente um humanista que se interessa por todos os temas da cultura, e tanto os da Antiguidade clássica como os da fé cristã. Para ele a fé cristã não é um simples adorno ou tema de inspiração, um mote ou um leitmotiv para as suas composições. A sua obra é radicalmente cristã.1 A "divina fé, que tudo excede"2, estrutura o seu pensamento e dá-lhe o sentido da vida. Ele é uma alma profunda e sinceramente cristã3, mais ainda, ele é um homem dotado duma fé esclarecida em alto grau, ao mesmo nível da sua vasta e profunda cultura, tornando-se, neste aspecto, um repto para todos os intelectuais dos nossos dias que se dizem cristãos. A profundidade e a justeza dos seus conceitos religiosos permitem-nos falar do "teólogo" Luís de Camões4. Como "poeta da fé", ele "soube exaltar e erguer bem alto o ideal religioso, a doutrina pura e sublime do Cristianismo, cantando alguns dos seus mistérios mais augustos de forma enternecida, em que se aliam os voos grandiosos da inteligência aos belos afectos duma alma simples".
- Economia, Trabalho e EducaçãoPublication . Ramalho, HenriqueA lógica de construção dos sistemas educativos tem possibilitado inúmeras análises que decorrem da ponderação dos vários condicionalismos que concorrem para a interpretação da construção político-ideológica da educação. Uma interpretação possível passa por ver uma educação que tende cada vez mais a invocar os valores conservadores com uma tradição secular neoliberal. Uma orientação que tende, em muitos casos, a sugerir uma profunda interligação entre a economia como sistema central, o trabalho que aí é necessário desenvolver e a educação que, por força daqueles valores, possa e, deva, promover o desenvolvimento económico, recorrendo-se a uma racionalização gerencialista, deixando antever que poder-se-á estar a invocar um sentido de construção de uma educação altamente instrumentalizada.
- Saúde e doença: significações e perspectivas em mudançaPublication . Albuquerque, Carlos; Oliveira, Cristina Paula Ferreira deSaúde e doença não são estados ou condições estáveis, mas sim conceitos vitais, sujeitos a constante avaliação e mudança. Num passado ainda recente a doença era frequentemente definida como "ausência de saúde", sendo a saúde definida como "ausência de doença" - definições que não eram esclarecedoras. Algumas autoridades encararam a doença e a saúde como estados de desconforto físico ou de bem-estar. Infelizmente, perspectivas redutoras como estas levaram os investigadores e os profissionais de saúde a descurar os componentes emocionais e sociais da saúde e da doença (Bolander,1998). Definições mais flexíveis quer de saúde quer de doença consideram múltiplos aspectos causais da doença e da manutenção da saúde, tais como factores psicológicos, sociais e biológicos (ibidem). Contudo, apesar dos esforços para caracterizar estes conceitos, não existem definições universais. Por outro lado, e apesar de todos os avanços na pesquisa biomédica, o nosso sonho de atingirmos ou mantermos uma saúde física e mental permanece exactamente isso - um sonho que, além de tudo, vale a pena prosseguir face aos efeitos da doença nos indivíduos e na sociedade (Diener,1984). Isto é, a presença ou ausência de doença é um problema pessoal e social. É pessoal, porque a capacidade individual para trabalhar, ser produtivo, amar e divertir-se está relacionado com a saúde física e mental da pessoa. É social, pois a doença de uma pessoa pode afectar outras pessoas significativas (p.ex.: família, amigos e colegas). Face a toda esta contextualização, será propósito deste artigo permitir que ao longo da sua redacção se possa definir e discutir o conceito de saúde e doença desde os tempos mais longínquos da nossa história. Saliente-se que os períodos históricos descritos qualificam a emergência e o desenvolvimento de cada um dos modelos de intervenção e conceptualização da saúde e das doenças, aceitando que eles coexistem e mesmo se interligam. Contudo, não será objectivo nosso descrever, por agora, estes modelos de intervenção, já que os mesmos nos merecerão, a posteriori, uma abordagem detalhada num futuro artigo científico a editar nesta mesma revista.
- O Envolvimento da Matemática com a Criação dos Computadores: Um Caso de Estudo da Lógica Matemática à Máquina Universal de TuringPublication . Chagas, Elza FigueiredoEmbora não nos apercebamos, o mundo em que vivemos hoje depende fundamentalmente da Matemática. A computação que revoluciona a vida moderna não poderia fugir a regra: foi desenvolvida inicialmente (em seus aspectos teóricos) por matemáticos como Von Neuman e Alan Turing. Nesse sentido, o trabalho aqui apresentado tem como principal finalidade mostrar a importância de conceitos matemáticos na criação de modelos de máquinas automática, em especial, a criação dos computadores, tendo como base o modelo da Máquina de Turing. Em especial, nos interessa abordar a questão do pensamento dedutivo e matemático, seus limites e o problema da relativa mecanização do pensamento quantitativo.